Nem as estrelas cintilantes
(I)
Nem as estrelas cintilantes,
Lua, nem os planetas grandes,
As gotas de chuva ou do mar,
Quais delas podem superar
As vezes que sonhei casar
Convosco, dama dos meus sonhos?
(II)
Mas em todo dia me exponho
Contra o vil, tirano, medonho
Dardo que busca me matar,
Vem por costume me acertar;
Dardo do amor que foi jogar
Na primeira vez que vos vi.
(III)
E nem poema algum escrevi
Sobre a sensação que senti;
Poema nenhum pode expressar,
Nem verbo nenhum conjugar
Minha alegria em vos amar.
Desde do dia é isso que penso.
(IV)
E por isso do amor não venço,
Já que perdi mesura e senso,
Não consigo de outra pensar,
Não consigo nem outra olhar,
Mas quem pode me censurar?
Se nela jaz minha alegria.
(V)
Eu nem na morte partiria
O amor, se eu negava, mentia,
Porém, se ele continuar,
Pois devereis logo expiar
Grave pecado em me matar,
Caso não me deis vossa mão.
(VI)
E vosso crime tem perdão
P'ra vós em tripla condição:
Que vos veja de véu no altar;
Que vós fiqueis a me esperar;
Que vós vades plena aceitar
O que sonho com a mais meiga.
(Tornada)
Eis a minha vontade feita,
Lua, não é coisa suspeita,
É normal que eu vá vos amar.