Doce Musa
Diários escritos numa tarde de outono,
folhas abandonadas na revoada do vento,
eu sinto a suavidade de sua presença imaterial,
em cada raio de sol que toca o batente da janela,
doce, doce musa, se me deixares não terei mais rumo...
Caminho entre labirintos sem fim de paredes espelhadas,
respiro com dificuldade se não há seu sorriso me renovando,
a noite parece durar mais quando seu perfume esvai-se no ar,
a suspeição de não estar mais em seu coração traz aflição,
doce, doce musa, como continuar inspirado sem seu olhar?
A espera de ventos centroeste congelam a vida em quadros,
pássaros voam desorientados entre pinheiros de plástico,
não há nuvens no céu cinza que anuncia a tempestade,
guarda-chuvas transparentes abertos sob lágrimas solitárias,
doce, doce musa, esqueça a saída que a afasta de mim...
Quando tudo for incerto como os números de uma loteria,
se a fuga exercer uma maior atração sobre a consciência,
não esqueça de que não se apagam sentimentos como giz na lousa,
eles ardem como febre incurável e contínua em cada instante,
doce, doce musa, apenas me deixe estar com você sem temores...