Procura-se vivo ou morto

não sinto amor,

eu vivo.

Paschoal, George

Meu maço lotado me lembra que tempo é fumaça; e que ele passa tão rápido quanto um cigarro aceso vira bituca.

Algumas noites me sinto fraco, frágil. Hoje é uma dessas muitas.

Em vão escrevo para expurgar os demônios que vivem nas brechas que abro nessas noites que são frias e insosiáveis.

O sol estava lindo hoje ao entardecer, tocava as nuvens pronto para se esconder e registrei em foto, guardei na mente e calei algumas vozes.

O meu caso é isolado.

Talvez eu sofra de misantropia aguda, talvez eu

seja apenas mais um desiludido, talvez eu seja

só mais um caso perdido. Estampado nos muros periféricos com os olhos vendados e a frase de: PROCURA-SE VIVO OU MORTO.

Enquanto puxo lentamente outro cigarro do maço

respiro a brisa suave da noite estrelada,

tenho um pigarro.

A voz latente não se cala, ela fala, BERRA! ela nunca erra.

Eu não sou pra depois, digo. Ela concorda

e com sua corda me enforca, sem força me forço,

pendendo tão qual um pêndulo enferrujado e sem energia.

A gente precisa ser nada, depois de ter sido tanto?

me faço esse questionamento com um leve espanto...

não sinto amor,

eu vivo,

planto.

Eu sou.

Paschoal, George

Paschoal George
Enviado por Paschoal George em 02/05/2022
Código do texto: T7508001
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.