Procura-se vivo ou morto
não sinto amor,
eu vivo.
Paschoal, George
Meu maço lotado me lembra que tempo é fumaça; e que ele passa tão rápido quanto um cigarro aceso vira bituca.
Algumas noites me sinto fraco, frágil. Hoje é uma dessas muitas.
Em vão escrevo para expurgar os demônios que vivem nas brechas que abro nessas noites que são frias e insosiáveis.
O sol estava lindo hoje ao entardecer, tocava as nuvens pronto para se esconder e registrei em foto, guardei na mente e calei algumas vozes.
O meu caso é isolado.
Talvez eu sofra de misantropia aguda, talvez eu
seja apenas mais um desiludido, talvez eu seja
só mais um caso perdido. Estampado nos muros periféricos com os olhos vendados e a frase de: PROCURA-SE VIVO OU MORTO.
Enquanto puxo lentamente outro cigarro do maço
respiro a brisa suave da noite estrelada,
tenho um pigarro.
A voz latente não se cala, ela fala, BERRA! ela nunca erra.
Eu não sou pra depois, digo. Ela concorda
e com sua corda me enforca, sem força me forço,
pendendo tão qual um pêndulo enferrujado e sem energia.
A gente precisa ser nada, depois de ter sido tanto?
me faço esse questionamento com um leve espanto...
não sinto amor,
eu vivo,
planto.
Eu sou.
Paschoal, George