É inútil dizer que te amo em escalas

É inútil dizer que te amo em escalas,

Que te meço a existência no espaço do coração,

Em que horizontes te aconteço nos fins de tarde da minha razão.

É inútil te conceber em paisagens, caber-te em canções,

És o cenário, os sons, és o movimento de minhas mãos.

Descanso-te na roda interminável de minha vida.

Não te apego às dores, ou às alegrias,

És a vida em mim como se apresenta,

Livre de qualquer conhecimento.

Luz de todo canto, pranto de toda espera.

A tristeza por ti em mim é bela, é graça,

É um fio brilhante do meu amor.

Sei que passas pelos anjos de toda eternidade

Antes que chegues ao meu olhar.

Eu não aperto o passo pra te encontrar,

Teus espaços sobressaem meus abrigos,

Tua presença me procura em toda sustentação de doçura.

A dor de te amar é ainda e além dos dias

A minha maior alegria,

Incalculada tal virtude que se apropria de qualquer angústia,

Que se vê no lugar que toma de toda escuridão.

Teus olhos não me indicam nenhuma direção,

Tua luz é só o que há, tua imagem é tudo que se faz.

É inútil dizer-te que é a ti quem vejo em todas as coisas,

É inútil dizer-te das dimensões nas quais te amo,

Porque te amo em todas as que existem,

E em todas as dimensões de cada uma delas.

É inútil, meu amor, falar-te de como te amo,

Se te sinto na própria natureza de amar...

E que envolveria um mundo de entregas em um abraço,

Se pudesse fazer perder meu olhar no teu, indefinidamente,

Sem contar as horas...

E por que te diria sobre tua existência ao meu coração,

Quando em mim ela se faz parte da minha própria?

Não é hoje, não é amanhã, nem é que existe,

É a própria existência, não se insere,

Apenas opera todas as coisas.