Poema da Inconsolabilidade

Eu devia ter aprendido a não sentir a tua falta,

mas eu não aprendi.

Eu te precipito.

Quando alguém me liga, ou toca a campainha,

Quando o entregador de pizza chega e quando vai embora,

Quando chega uma mensagem, quando a respondo.

Quando estou mexendo no celular, escrevendo, desenhando...

Eu espero que você apareça. Como milagre, como se fizesse sentido.

Eu espero que você volte.

Quando você evaporou eu pensei que fosse sumir,

Que eu nunca mais te veria, que você não estaria mais em lugar algum.

Agora eu te vejo em todo canto, eu te espero em cada esquina.

Quando saio com minha mãe, com meus amigos, penso:

"E se ela estiver lá? E se eu encontrá-la por acaso?"

Quero te ver, só para fingirmos que nunca nos vimos.

Só para brincarmos de estranhos.

E é assim, te precipitando, te esperando, que vivo você.

Você está em cada esquina, em cada olhar, em cada beijo,

Em cada garfada, em cada gole.

A noite, quando subo no coreto, na Praça da Bandeira,

Arcoverde inteira é você.

Tenho contigo uma memória em cada canto, uma saudade em cada lugar,

Que me persegue, que não me deixa, que não vai embora,

Que está sempre aí: insuperável, imortal, irredutível.

Quando vou dormir, você se deita comigo

Me beija, me abraça

E eu choro.

Queria sentir teu abraço nos braços de alguém,

Queria que o calor de alguém fosse como o teu,

Ou que os beijos fossem tão verdadeiros.

Eu vivo pela metade, procurando metades,

E cada vez mais me vejo aos pedaços.

Te sinto em todo canto, mas você não está em lugar algum.

Nunca esteve, nunca estará.

E agora, quando alguém me abraça ou me beija

Eu choro.

Por que sinto a tua falta.