“Como num passe de mágoas”
Não enxergo mais aquele brilho
Que caracterizava euforia no teu olhar
Guardado pela fração discreta
Entre o intervalo de cada piscar
Mesmo que atento a toda palavra que sai da tua boca
Não entendo a entonação da tua voz tão doce
Vociferando palavras tão tarde, à toa
Destoando da educação que sempre
Fez questão de exercer sem questionar
Questão que eu nunca fiz, aprendi
A admirar sem ter que admitir.
Ah, se tentasse escutar, pretendo não discutir.
Nem todo pensamento que vira pronúncia é feito pra ferir,
Mas prefere mesmo é não ouvir
O que, de nem tão importante, tenho a dizer.
Raramente empresta os teus ouvidos pra desabafar
Apesar de ainda me sentir dependente
Das pontas dos teus dedos, teus lábios atraentes
Teu colo quente, cabelo curto na nuca raspado
Me dando as costas lindas, me acidentando em tuas curvas
Me faz te deixar subir a escada na frente,
Sorriso que bate feito travesseiro de plumas
Daqueles que nem a máscara pode mascarar
Que nem a calma é capaz de expressar.
Persiste a sensação da minha alma perdendo a borda
E ela jorra do meu corpo como fogos de final,
Como copo na mão de bêbado
Tropeçando no primeiro degrau
Sem derramar o líquido,
Sem nem pensar de caber em frases,
Desde que pensávamos ser só uma fase
De lá pra cá quantos carnavais?
Me fazendo sempre cair na tua.
É um estrago o contato quando demais
Menos quando teu toque é eficaz
Eficiente é o que apenas cumpre o prazo
Esse já venceu tantos temporais,
Feito temporadas de sérias séries
Retratando vidas sofridas reais
Situações corriqueiras, sensações carnais
Além do que já me é suficiente, surpreende,
Claramente causa e sara a dor.
Se ainda me é concedido o peito aberto para almar
Sem perdões milimetricamente calculados para conceder
Cruzemos conversar até alcançar o entender.
Escassez emocional
É a falta que abala o ser
Entrando pela porta sem bater.