AMOR AO VENTO
Queria ter o tempo da espera
e esperar as águas de verão
para ver o amor, essa quimera,
nos teus olhos e no teu coração.
Se tivesse a semente da palavra,
quando beijasse a tua língua,
deixaria nela, do perdão, a lavra,
e o desejo de não morrer à míngua.
O outono chegou… me convida,
aguardo paralisado a sua mão
e o movimento da vida
para me tirar dessa solidão.
Tenho em mim as emoções...
deixarei o amor solto ao vento.
Não tenho mais as estações,
mas tenho o poder do tempo.
Talvez em um outro momento,
ou em renovadas estações,
a semente levada pelo vento,
floresça em nossos corações.
(GALATEA DAS ESFERAS 1952, SALVADOR DALÍ)