FLOR DO GRÃO PARÁ
Uma flor cresce
seguindo a tênue luz na ruína,
o parco orvalho verte
a lágrima do dia
e o concreto não desvanece
a flor que principia.
Uma a uma as pétalas
constituem artérias,
o sistema de flores
alimenta os edifícios
e das fachadas singelas
brotam-se sorrisos.
Erguem-se os moradores
na cidade destruída
que de arrasada em temores
em flores foi reerguida,
do aroma dos amores
bailam a dança proibida.
No cinema, nas festas, nos umbrais
teu nome em cartaz;
do trabalho, do quarto, do corrimão
teu nome na contramão;
na praça, no shopping, no Grão
teu nome sem direção
pra frente, pra trás, ao contrário,
de fora, de dentro, de lado
de cima, em volta, de baixo,
por sobre, por entre, do ventre,
no átrio, no pátio, no alpendre
no cálice, no caule, na corola.
É a vida no estigma da aurora
convertendo o que era escombro,
obscurecendo a luz do assombro
no verde rosa dos teus lábios,
no sangue que toca afiado espinho,
no verbo da ação dos indivíduos.
Tu és a flor, eu esta metrópole.