Ampulheta
Acho cruel como o tempo passa, inundando tudo,
vincando, envergando tudo.
Colocando limites em tudo.
A gente nasce e já começa a contar o fim.
Este é só um desses pensamentos pessimistas que me invade e que não me deixa,
não enquanto não me sinto confortável em dormir sem ter a certeza de que esse não será a última vez que fecho os olhos.
Ninguém tem certeza de nada, eu não tenho.
Viver nessa ilusão de ter, de conquistar, de ser e pertencer,
isso tudo me tira a sanidade que eu nem sei se de fato possuo,
ou se me convenci que sim, apenas para não parecer a única insensata dentro da minha própria existência.
Nada me obedece, não tenho controle de nada.
Tudo me engana, penso que decidi o que quero, mas nem sei se quero decidir coisa alguma.
Sou insolúvel e volátil.
Um ser diminuto que vagueia procurando se encaixar em qualquer espaço confortável a espera do fim.