Ampulheta

Acho cruel como o tempo passa, inundando tudo,

vincando, envergando tudo.

Colocando limites em tudo.

A gente nasce e já começa a contar o fim.

Este é só um desses pensamentos pessimistas que me invade e que não me deixa,

não enquanto não me sinto confortável em dormir sem ter a certeza de que esse não será a última vez que fecho os olhos.

Ninguém tem certeza de nada, eu não tenho.

Viver nessa ilusão de ter, de conquistar, de ser e pertencer,

isso tudo me tira a sanidade que eu nem sei se de fato possuo,

ou se me convenci que sim, apenas para não parecer a única insensata dentro da minha própria existência.

Nada me obedece, não tenho controle de nada.

Tudo me engana, penso que decidi o que quero, mas nem sei se quero decidir coisa alguma.

Sou insolúvel e volátil.

Um ser diminuto que vagueia procurando se encaixar em qualquer espaço confortável a espera do fim.

Anna Lima
Enviado por Anna Lima em 18/03/2022
Reeditado em 17/01/2024
Código do texto: T7475789
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