Grafia de nós dois
Em seu caderno,
escrevia
E procurava
palavras
Que rimavam
Nós dois.
Me habituava,
Às vezes, morava
Nas histórias
que escrevia
E ilustrava
Enquanto observava,
o ar que nos faltava
na imensa vontade,
de vencer o tempo
E viver em sonho,
Naquele momento.
Entre parágrafos,
eternizava
E entressonhava
a utopia,
que nos atravessava
Nos domingos,
Em nossas casas.
Entre versos,
Naufragava
Te desanuviava
Me encontrava
Te devaneava,
E devorava
As palavras
que tateava
Em você.
De repente,
Me habituava.
E lhe perguntava
Se a história,
Já contada
Se prolongava
Por entre risos
E asas.
Ganhava vida
E voava.
Se perdia,
E me encontrava
como a memória,
que há tanto guardava.
As palavras viajantes
riam, dissonantes
sabiam que a narrativa
Há muito,
Já não era só minha:
em meu caderno,
Sua grafia
me recriava,
me apaixonava
me tateava
A cada linha
Que recomeçava.