Grafia de nós dois

Em seu caderno,

escrevia

E procurava

palavras

Que rimavam

Nós dois.

Me habituava,

Às vezes, morava

Nas histórias

que escrevia

E ilustrava

Enquanto observava,

o ar que nos faltava

na imensa vontade,

de vencer o tempo

E viver em sonho,

Naquele momento.

Entre parágrafos,

eternizava

E entressonhava

a utopia,

que nos atravessava

Nos domingos,

Em nossas casas.

Entre versos,

Naufragava

Te desanuviava

Me encontrava

Te devaneava,

E devorava

As palavras

que tateava

Em você.

De repente,

Me habituava.

E lhe perguntava

Se a história,

Já contada

Se prolongava

Por entre risos

E asas.

Ganhava vida

E voava.

Se perdia,

E me encontrava

como a memória,

que há tanto guardava.

As palavras viajantes

riam, dissonantes

sabiam que a narrativa

Há muito,

Já não era só minha:

em meu caderno,

Sua grafia

me recriava,

me apaixonava

me tateava

A cada linha

Que recomeçava.

Fernanda Marinho Antunes
Enviado por Fernanda Marinho Antunes em 17/03/2022
Código do texto: T7474584
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