A INOCÊNCIA DAS ÁRVORES
Sinto, sim, a tua falta, estrela-guia.
Sem ti, entrevo-me, feito um trevo fechado em copas.
Quisera ver como alumias minhas copas
Como chupas meu orvalho,
folha a folha,
fazes de meu tronco teu choupo cálido.
Porque a saudade de ti se fez rosa seca.
Os jardins ardem em fogo, as folhagens empalideceram.
E eu de bom gosto, sorveria das suas ramificações,
provando da clorofila do teu tronco,
a raiz, a haste e a verga.
Faço do teu caule meu regalo úmido.
Na tua sombra, feito triste cipreste,
o mergulho no profundo submundo,
as impiedosas pragas de arder,
desejo um desejo imundo de minérios do teu ser.
Que nós merecemos meu bem, o mundo,
voltar ao topo solar das novas folhas
e nelas tecer a novidade e os versos.
Trazer-te em arte, que perverso, colhas.
E na terra fecunda, a semente em broto,
depositada no ventre da floresta, germina.
É a inocência das árvores, não há perversão,
nem pecado. É flor, fruto e poesia.