A INOCÊNCIA DAS ÁRVORES

 

 

Sinto, sim, a tua falta, estrela-guia.

Sem ti, entrevo-me, feito um trevo fechado em copas.

 

Quisera ver como alumias minhas copas

Como chupas meu orvalho,

folha a folha,

fazes de meu tronco teu choupo cálido.

 

Porque a saudade de ti se fez rosa seca.

Os jardins ardem em fogo, as folhagens empalideceram.

 

E eu de bom gosto, sorveria das suas ramificações,

provando da clorofila do teu tronco,

a raiz, a haste e a verga.

Faço do teu caule meu regalo úmido.

 

Na tua sombra, feito triste cipreste,

o mergulho no profundo submundo,

as impiedosas pragas de arder,

desejo um desejo imundo de minérios do teu ser.

 

Que nós merecemos meu bem, o mundo,

voltar ao topo solar das novas folhas

e nelas tecer a novidade e os versos.

Trazer-te em arte, que perverso, colhas.

 

E na terra fecunda, a semente em broto,

depositada no ventre da floresta, germina.

É a inocência das árvores, não há perversão,

nem pecado. É flor, fruto e poesia.

 

 

Elisa Salles e Fernando Martins Lara
Enviado por Elisa Salles em 12/03/2022
Código do texto: T7471074
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