CANÇÃO das MULHERES numa PRIMAVERA MAGRA

Bimbamboleias teu andar ribombante estalando-te na acústica do céu teatral do Brasil

Os anjos dançam quadrilha agitando as asas sobre os abortos violentíssimos! nas favelas

Desmontaram o circo em que os leões te lambiam Nós ainda éramos nascidos quando as músicas soavam entre os muros

nós ainda éramos nascidos e não sabíamos o que era crime e o que não é

Ainda desta vez os políticos negociarão a terra da perfeição e da ordem

e os canibais palitando os dentes e os meus cabelos estão cortados em forma de crina porque grafito evangelhos ao longo das rodovias e dos viadutos,

fêmea imortalizada pela gestação de deuses inéditos e raças extintas na beira do mar maternal dos nossos delírios mitológicos,

tua carne sedosa molhada de orgasmo e lágrimas

e os negros tocam saxofone no camburão enquanto ateus e crentes se dopam nas respectivas permissões

Ainda assim e ainda que fosse as novas religiões nasceram da química dos ministérios e nascerão

E nascerão das enluaradas festas ao deus anônimo dos bosques inconclusos,

crepusculírios - eternimutáveis jovens inclementes,

alheios, apenas alheios, alheiosengendrantes do amor selvagem

megalampo sex-brutal

d'amantes prévios

incansáveis vagabundos

tônicos

no sol berrante

a fêmea flama o vibro: natância o desejo além do castigo,

para que eu livre dos números e das leis,

ponteie na viola, a vontade acesa no teu corpo nu,

a canção das mulheres numa primavera magra