"Aquela coisa dela"

Qual é mesmo o nome

Daquela coisa que embora banal

Se mantém fascinante?

Aquela coisa que fazia salivar

E mesmo a sede saciada,

Acomodada conforme o tempo,

Permanece o gosto viciante

Em delirantes doses de euforia

Imaginando cenas de tudo

Que eu faria se a tivesse ali,

Disponível por inteiro para discutir

Conceitos e conceber carícias,

Tatuando o tempo dela em mim.

Não exige o menor esforço

Descarta o fracasso a cada chance

Dispensando que eu pense o oposto

Anulando que ela perca o posto

De ser o porto ao meu alcance.

Impede que por desventura eu canse

Que por uma aventura ela se mande

Feito amores de artifício dissolvidos nesse instante.

Aquela coisa dela, que simplesmente acontece,

Prevalece, me enrijece, manipula a culpa em mim.

Se faz presente quando sorri pela metade,

Nem por vaidade ou falta de hospitalidade,

É raridade que ela aja rude assim

Perdendo a oportunidade de pensar antes de agir.

A outra parte segue séria, intensa, covarde

Faz alarde pra mais tarde deitar,

Rolar e entre abraços dormir.

Quando quer me convencer a fazer qualquer

Coisa boba, bola a ideia, bota o dobro da força

Chantageando no meu campo fraco

Sucumbindo ao meu copo cheio

Ressuscitando o meu corpo morto.

Quando inflama em felicidade pelo mínimo motivo,

Melhor ainda por motivo nenhum

Mesmo que a tendência fosse falar

De todos os problemas e situações contrárias.

Quando escuta música triste nos fones

Esperando que a ordem aleatória

Traga alívio em uma que distraia.

Acaba deixando transparecer esse ar,

Essa coisa quase sem querer

Como começar algo sem antes aprender,

É especialidade dela

Deixaria de ser decisivo no momento

Em que se tornasse intencional.

Talvez isso nem tenha nome afinal.

Apenas ela em estado

De existência ao natural.

08/12/2019

Pablo Machado
Enviado por Pablo Machado em 21/02/2022
Código do texto: T7457216
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