Quando o amor empena, se desconhece, desfia,
secando seus cheiros, texturas e frutos,
dá pena até de termos nascido.
Essa dor desmantela os sentidos, embriaga as batidas do coração,
torna nossos passos mancos e quebradiços.
Aquele amor que tanto saltitava, tanto iluminava,
agora jaz frio e calado, jogado num canto qualquer.
Daí quem outrora se serviu dessa fonte,
quem mamou nas suas tetas com vigor de condor,
quem entendia sua voz ecoando junto do mar,
se entristece toda vida.
E assim se ficará até que...
Do amor vencido, coalhado, esmigalhado,
surge um grão que parecia morto como os demais.
Esse grão se revira de todo jeito até virar semente.
Não uma semente qualquer como as tantas,
Mas aquela capaz de parir o amor de antes,
com os pedaços mais contundentes da sua cor.
Então o amor volta à tona pra cumprir seu legado
como nunca deveria ter deixado de ser.