Corpos poéticos
São sei lá que horas da madrugada
e meu bem... a prosa dos meus lábios
se confunde com a poética dos teus olhos,
que são folhas de rosto
dos meus poemas.
Fechaduras
Molas elásticas
que me comprimem em cápsulas
e me fecham no silêncio
do velho provérbio eclesiástico.
Não me conheço de longe.
Nem te conheço de perto.
Sou serpente, víbora do deserto
junto a profecia dos loucos
que são nuvens náufragas
em pelugem de ilhas
e versos sem afago.
Tudo é muito mudo
quase mundo, sem sentido.
Poucas folhas
e o teu rosto se mistura
aos cumprimentos de ondas
que os meus pés fazem na areia
juntando as linhas dos teus cabelos
às estrofes virgens de minhas mãos
formando as curvas das ondas
e dos eletrocardiogramas.
Recorto letras
Junto peças
Desenho rostos
Desconfiguro o poeta
e faço o melhor teatro.
Sou duas máscaras
e sou teus dois olhos yin-yang!
Sou o equilibrista maluco
no circo dos astros.
Eu só tenho desgosto.
Não sei de poeticidade.
Acho um saco...
mas não escrevo em saco
somente soco folhas de rosto.
Tuas curvas sacanas
e tuas mordidas de areia...
me incendeiam,
me turvam em versos de estrela
e canções ciganas.
E voo. Eu vou nessa tua asa de cometa...
rasgando folhas de rosto e camas
com essa calda de sereia.
Serei sol ou lua desse planeta?
Serei nada. Serei um saco.
Talvez, com sorte, um anel de poeira...
Talvez, sem arte, o vácuo.