BLUE TRASH

O dia é tão ensolarado que enjoa.

Sorrisos são tragédias íntimas,

que recebem a visita da juventude,

no subúrbio das boas intenções.

Ilusões construídas sobre a grama,

tão sintética quanto o sexo manual.

E nesse espaço entre seu mundo e meu,

se desenrola a dança quase sobrenatural,

que eu acho que é amor enlatado importado,

mas pra você é ração de cachorro rejeitado.

Isso me dá alergias e outras formas de negação,

mas a gente passa por isso como elegantes senhores,

decadentes na mediocridade da falta de genialidade.

Viver dá um certo nojo de tudo,

ainda mais quando tudo é higienicamente planejado.

Por isso as veias estão sempre perfuradas,

as vontades sempre que podem, silenciadas,

e o assassinato a um passo do inevitável.

Quis te matar numa manhã de segunda,

mas a casa já estava tão limpa.

Agora, simplesmente não nos importamos.

A úlcera nos consome como cadáveres,

e seremos eternamente ligado na podridão,

porque não vamos nos desfazer de nossa covardia.

Entre uma taça de licor e outra da tarde,

vamos beber mais um pouco de nossa amargura,

escondida atrás desses dentes de fingida brancura.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 06/02/2022
Código do texto: T7446170
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