BLUE TRASH
O dia é tão ensolarado que enjoa.
Sorrisos são tragédias íntimas,
que recebem a visita da juventude,
no subúrbio das boas intenções.
Ilusões construídas sobre a grama,
tão sintética quanto o sexo manual.
E nesse espaço entre seu mundo e meu,
se desenrola a dança quase sobrenatural,
que eu acho que é amor enlatado importado,
mas pra você é ração de cachorro rejeitado.
Isso me dá alergias e outras formas de negação,
mas a gente passa por isso como elegantes senhores,
decadentes na mediocridade da falta de genialidade.
Viver dá um certo nojo de tudo,
ainda mais quando tudo é higienicamente planejado.
Por isso as veias estão sempre perfuradas,
as vontades sempre que podem, silenciadas,
e o assassinato a um passo do inevitável.
Quis te matar numa manhã de segunda,
mas a casa já estava tão limpa.
Agora, simplesmente não nos importamos.
A úlcera nos consome como cadáveres,
e seremos eternamente ligado na podridão,
porque não vamos nos desfazer de nossa covardia.
Entre uma taça de licor e outra da tarde,
vamos beber mais um pouco de nossa amargura,
escondida atrás desses dentes de fingida brancura.