Poema - Constelação Diva
"Desde o dia em que Diva se foi,
do solo irrompem pequenas formas delicadas; rosas cuja fragrância marcante, penetra-nos os sentidos e constela a alma olfativa do cosmos com o perfume luminoso das estrelas."
Vejo-te incorpórea no interior
das formas lúcidas da natureza;
tu se estende como uma névoa límpida que encobre nossas memórias ao transcender a vida.
Descubro-te ausente no abismo do silêncio, mas as tuas pétalas emergem do recanto da alma daqueles que por ti foram marcados.
Tu que retornastes para o solo, e que mesmo oculta seguras as minhas estruturas.
Tu que ascendeu ao céu e plasmou-se na atmosfera das memórias.
Tu ainda vives debaixo de mim, e
debaixo de tantos, tal qual a raiz firme de uma árvore constelando as gerações futuras.
És também a raiz profunda que nutre a parte visível dos meus sonhos.
Cresço porque carrego estoques de ti em meus nervos.
Ah, tantas são as hospedarias da tua ancestralidade. Tantos são os que te guardam no calor tépido das veias.
Numa catalepsia transitória,
soterrei algo ainda vivo junto a ti;
o enterrei, pois pensei-me morta no momento em que te perdi.
Enganei-me - À sua maneira, tu vives para além da forma minúscula da matéria. E a parte que enterrei de mim, rompe a terra, desvelando a face madura de quem outrora fui.
Desde o dia que partiu, em mim já não se abriga o medo, porquanto me ensinastes a coragem, e o ápice da dor já esgotei em tua falta.
Teu terço entrelaça a minha alma numa santidade oculta que jamais hei de alcançar.
Já as tuas rugas contornam o esquecimento ao te desenharem na distância do tempo.
Tu deságuas das lágrimas
que escorrem dos nossos olhos quando a lembramos - Essas águas formam uma fonte da juventude, e é a ela que tu sorves quando se regenera por entre as memórias no céu da eternidade.
Deixar-te ir mesmo que na madureza dos teus dias, punge-me o peito e desvela-me as chagas.
Lembrar-me-ei de ti assim, com o semblante plácido das estrelas, que mesmo após a morte continuam a brilhar com a ternura de quem entende o infinito.
"Desde o dia em que Diva se foi, tua silhueta brota nos jardins do universo, e o aroma compreensivo das rosas a materializa em um conglomerado de estrelas, delineando enormes pétalas luminosas;
Desde o dia em que Diva se foi,
uma enorme constelação cruza o céu e ganha forma no horizonte entre São Paulo e Minas Gerais."
- Letícia Sales