Eterno breve encanto

 

Que todo encanto que exista num verso,

Não se dilacere por indevida dor.

Que a inspiração presente na poesia,

Não deixe de existir por conta da amargura.

E que por mais sublime que seja a razão,

Que ela esteja sempre aquecida pela alma do coração.

Que todo o equívoco da ganância,

Não apague a chama suave da generosidade.

Que os desencontros da insuficiência humana no cotidiano,

Não destrua a fé que transcende a razão em busca.

Que os jardins ressequidos pela ausência de água,

Se guardem ocultos em sementes prontas para brotarem,

Quando as águas retornarem.

Que todo sorriso tingido por lágrimas compulsórias,

Tenha por doce vingança a alegria ingênua que despreza a dor.

Que ao bordar os véus do tempo com ilusões,

Estas tenham tamanha graça que se convertam em esperança.

Que o passado nunca deixe mortificar o presente,

E que o momento seja cada vez mais sábio em direção ao futuro.

Que a solidão não seja só, mas convívio com a interioridade.

Que o tempo se canse e se perca em responsável liberdade.

Que o espaço deixe de subjugar e se integre em um Todo.

Pois que nada é tão importante que vala a pena apagar a alma.

Centelha de consciência, ninho onde repousa o rebento da ética.

E então que se toque uma valsa para o idealista dance com a utopia.

E que tal casal se entreolhe com a paixão da mais tenra primavera,

E descubra que além de todo desejo se faz presente o encanto.

O encantado toque de mãos que comungam em encontro,

A luz tênue da troca entre dois olhares que confessam seus corações.

E por tudo que se faz, por tudo que se é, há que dizer,

Que em meio as areias de abundantes desertos,

Repouse um oásis que será semente renovada de um jardim,

Que distribua cores em flores, em fragrâncias sutis,

Regadas por notas musicais que pedem licença ao silêncio.

E então quem sabe por um instante

Se terá vivido toda a eternidade de um intenso amor atemporal.

 

04/01/2021