UM PEDACINHO HUMANO A VAGAR
Há vários amores em cada um de nós:
amores ingênuos, amores maldosos
amores que acrescem, amores faltosos
amores calados, amores que gritam
amores que partem, amores que ficam
amores que choram, amores-apego
amores dolorosos que pedem arrego...
Mas há aqueles que de todos os amores
levam um pouco dos nossos segredos:
as multifaces nossas de vários enredos
O amor que fica, mas não cria morada
enjoa dos beijos, mete o pé na estrada
Somos muitos amores perdidos no ar
Vontades confusas de não saber perdoar
E dos amores que nunca se encontraram?
Esses amores futuros, os amores viajantes
excessivas vontades, distraídos instantes
que existem no outro e são por nós desnutridos
Os desenhados na mente, o colo requerido
que se cruzam nas ruas sem saber se olhar
o amor que ausente: um pedacinho a vagar...
(GONDIM, Kélisson. Um pedacinho humano a vagar. In: Abstração - 3ª Antologia poética AIL. São João/PE: Academia Independente de Letras (AIL), 2020, p. 304.)