O ANDARILHO PIEDOSO

O velho ainda caminha às cegas, de fato.

Sente o vento cortar-lhe a face enrrugada.

As mãos calejadas, perderam o tato,

Os pés feridos doem, como a alma magoada...

O andarilho idolatra um copo d'água.

Está sedento, pálido e fadigado.

Sabe que não passa de uma fábula,

De um sonho de um poeta desvairado.

É apenas um personagem, nada mais...

Por isso, eis que jaz. Sonho acabado,

Silenciam-lhe todos os ais.

Porém, antes pensa o pobre: _ Se agora estou assim,

Imagino o poeta que me sonhou. Coitado!...

Ai de mim, poeta... ai de ti!