Encontrando Ternura No Meio De Um Livro
Há momentos inesquecíveis e de incrível perfeição, que me fazem lembrar todos os dias da poesia que a vida cotidiana, muitas vezes nos impede de apreciar.
Indo visitar uma amiga muito especial, na mesa de jantar depois de muitas conversas jogadas fora e muitas risadas em uma época de carnval, eis que a mesma afirma que tem um presente especial para mim.
Fiquei feliz e ao mesmo tempo impressionado pois realmente não esperava. Era uma coleção de livros que me ajudariam na minha tão sonhada jornada acadêmica.
Não consegui resistir e comecei a ler ali mesmo, em plena sala de jantar. Isso ocorreu em uma sexta-feira e exatamente uma semana depois, no último volume. Encontrei uma folha de caderno, com o poema do Vinicius de Moraes, denominado Ternura. E acendeu em mim uma vontade inexplicável de também escrever poemas, honrando o meu famoso xará, que em homenagem ao mesmo, a minha mãe me concebeu a honra de ter esse nome poético.
Segue abaixo o poema
Ternura
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente
E posso te dizer do grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
Nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
Encontrem sem fatalidade
O olhar estático da aurora