A FLOR E A ESTRELA
Uma plantinha sem definição,
sonolenta se ergue do chão.
Enquanto que do espaço sideral,
é observada por uma luz celestial.
O tempo passa como um passa tempo.
A plantinha cresce ao sopro dos ventos.
Agora um pouco maior, porem triste,
cabisbaixa observa a sua volta o que existe.
Seu corpo está mudado, ficou diferente.
A transmutação deu lhe uma cor quente,
em uma cabeça arredondada como flor,
só não lhe falou nada sobre o amor.
Apesar de sua diferença e grande beleza,
vivia cabisbaixa, dava dó a sua tristeza.
Até que em uma linda manhã de primavera,
quando parecia que nada havia a sua espera,
ouviu uma voz a lhe chamar docemente.
Olhou em toda á sua volta cuidadosamente,
mas não conseguia descobrir quem a chamava.
Até que por fim, olhando para o manto celestial,
lá estava ela, tão linda e como sempre brilhava,
a sorrir descontraidamente para a flor que a procurava.
Era uma grande estrela que nascera para brilhar.
Para doar tudo que havia de bom, até mesmo seu calor.
Uma estrela que veio para dar vida e a tudo iluminar,
aquecendo corpos doentios e sem mais nenhum amor.
A partir de então a pobre planta se apaixonou.
Não queria olhar para outro lado, senão para cima.
Pois aquela grande e esplêndida estrela a conquistou,
fazendo nascer entre ambas um bom clima.
E por onde a estrela seguisse seu caminho,
cá da terra, a plantinha girando seu corpo a seguia.
Pois encontrara uma forma de roubar lhe seu carinho,
enquanto seu corpo aquecia durante todo o dia.
E ao anoitecer, já cansada de tanto em voltas girar,
voltava a pobre planta, cabisbaixa a sonhar,
com um novo dia a cada amanhecer,
pois somente assim ela voltaria a renascer.
E assim vivia na terra todos os dias, a flor,
sonhando esperançosa, em sua vida abraçar,
aquela estrela tão bela e lhe entregar seu amor,
pois a distância não é obstáculo quando se quer amar.
Mas o destino cruel e traiçoeiro não lhe permitia,
nada mais, senão olhar da terra sua estrela guia.
E de tanto tentar em vão e girando qual uma louca
em prantos, só se ouvia a implorar, sua voz rouca.
E assim tristemente a flor foi se definhando
e novamente de cabeça baixa ficou chorando.
Suas lágrimas em preto e branco caíram ao chão,
e este com pena, as recolheram dentro de seu coração.
Tempos depois novas plantinhas foram surgindo,
de cada uma daquelas lágrimas fecundas, porem frias.
Foram tantas e tão lindas, que muitos ao vê-las, sorrindo,
as colhem, doando ás uns aos outros, demonstrando sua alegria.
Estação do Cercado (MG), 01 de janeiro de 2022.