"O rarefeito amor"
Tua presença é passeio, presente,
Uns dias de grego quando a gente se desentende
Dá vontade de tornar passado
E ao mesmo tempo pensar nisso causa receio
É compromisso reafirmado, passatempo
Sem horário marcado ou feito de rodeios
Mãos atadas, cabeças livres
Amor liberto e anéis nos dedos
Roubo uns minutos teus e
Com os meus melhores te presenteio
Também tem dias de temporal
Até o amor atemporal
Tira um dia pra dar um tempo
Tiroteio emocional pelas vielas do coração
Um atira o outro vitimado revida e assim defende
Nem por isso eu levo a mal
Tens direito de errar, arcar com os custos,
Ferroar, se arrepender
Tenho o meu de desculpar,
Reconhecer, deixar passar, me recolher
Prisioneiro de um bem me quer
Que nem sempre sabe bem querer
Esqueço a culpa e as impossibilidades
Pra considerar tuas vontades
Dentre outras vantagens
Que perco às vezes por não ceder
Nesse estranho mar de medos
Que a vida nos empurra e impõe tão cedo
É fácil sossegar em silêncio,
Negociar consentimento,
Duro é calar cada voz lá dentro
Quando o peito pesa, a cabeça esquenta
Incendeia o ambiente
Omissões são mato seco
Descobertas querosene
Só no pós-acontecimento
Quando vazios de ressentimentos
Bate a consciência como extintor de incêndio
Despimos o ego pra buscar
Feito agulha num palheiro
A fagulha de um rarefeito, insuspeito, amor
Prevalecendo sobre a ideia de não sermos
Uma fatia cotidiana de um mais do mesmo.