A Paixão enterrou a caixa de Pandora!
Lembram-se queridos leitores,
daquela primeira e intensa Paixão?
Em que íamos os dois incorruptíveis,
Sozinhos, passear de mão dada,
pelas trilhas dos adolescentes apaixonados.
Nesse tempo, e já passou algum,
ser romântico fazia parte do curriculum.
Os Gajos conversavam com as Gajas! Ahahah
Ela levava na mão aquele lírio enamorado,
E dava-me sempre o seu braço acolhedor!
Corríamos nas cearas junto do sol doirado
Morria de medo do avançar das horas
que desde a torre da igreja a noite chegava.
Beijava-lhe os lábios no imaginário
entre crepúsculos terno nos lençóis de linho…
...adormecia…e sonhava com ela…
Na igreja ela fica nos bancos das famílias abastadas
entre aquele fodor de roupa domingueira
onde o cheiro a naftalina se misturava com
o bafo a vinho do velho padre.
Lembram-se de cantarolar os velhos êxitos musicais
à janela do quarto com esperança que vento vagabundo
levasse até ela… e ficasse memória dos rouxinóis?
Era amor! Eramos inocentes…amava-se com inocência!
Construi uma frágil caravela de papel manteiga
que andou por todos os mares e oceanos…
Trago ainda no meu coração o sonho de navegador…
Mas eu era pobre…levaram-na para Paris.
Passaram 30 anos e hoje senti que olhas-te para mim!
Às vezes sou distraído…caminho sem nexo pelo subúrbios
Como olha o mar de novo, senti o vento
como naquela tarde em que construi a Caravela
mas desta vez não me despenhei nos rochedos…
Aquela névoa adormecida dissipa-se
Quando o vento corre a trote sinto o teu odor!
Sei que ninguém vai acreditar…o poeta bobo que
adormece com o vinho entre o arvoredo.
Olhavas para mim...eu sinto! Meu corpo rude e bruto sente!
Vibrei como a onda gigante que os putos esperam uma vida
para se alarem nos nevoeiros da praia da Nazaré.
Olhavas…. Da mesma forma descuidada que o fizeste
na primeira aula …
Lembram-se queridos leitores,
da vossa primeira aula?
Não sei se voltarei a andar de mãos dadas nas ruelas de Monsaraz!
Mas ouço bem tua voz …vejo melhor teu rosto
Mesmo no silêncio sem fim…mesmo na escuridão completa!
Será que te Ouço na velha dor de te ter perdido?
Será que apenas fazes parte do meu desgosto?
Ou será a minha esperança que sentiu que olhas-te para mim?
Poeta! Imbécil!!!
É mais fácil o sol morrer na sombra da tristeza
que tu voltares a navegar na caravela de papel manteiga!
Velei o amor…com amor durante todos estes anos,
deixei a arte, corto madeira na floresta de doridas frontes.
Dizem que está assombrada e que as pedra choram e rezam,
Dizem que lá os anjos desmaiam de mágoa e choram
até criar cristalinas fontes envenenadas de saudade!
Dizem que fui eu meus caros!
Dizem que foi o meu desgosto a desgraça desta aldeia,
Dizem que sem ela o sol nunca mais entrou na floresta
A aldeia ficou surda, cega e muda!
Lembram-se queridos leitores,
Quando andavam de mãos dadas…sonhavam
Ao longo dos caminhos dos adolescentes apaixonados?
Onde tudo o que nos rodeava tinha o mesmo aspeto
das almas apaixonadas.
Passaram 30 anos e hoje senti o teu aroma no ar!
Amor … paixão! Acredito que não é apenas piedade.
As folha amareladas que tombavam na floresta
deixavam o sol entrar….o sino da igreja tocou...
E, sob os nossos pés floriram descontroladamente
na terra da saudade os lírios enamorados!
As pedra que outrora choravam em pranto
transformaram-se em pó de melancolia.
Falavam duma estrela que passava de década a década
transformando o bosque em flor durante uma noite
Que ceguinhos sem pão estes petrificados seres!!!
Ricos abastados … pobres de alma…não sonham!?!?
Olhei-te…cheirei-te…agora quero escutar a tua palavra…
Transforma esta espera de etérea dor numas nova vida…
Ahhh…impressionante…ainda tens aquela tua voz de menina!
Me impressionava tanto que até os rouxinóis cantam memórias !
Lembram-se queridos leitores,
quando vos falei de intensa Paixão??
Sim! Aquela que era tão boa e pura…
Voltou! Se morri é sinal que fui para o céu!
Te chamarei de céu!
Passaram 30 anos e hoje senti o teu amor!
Sem qualquer sombra escura na fronte do luar
Que medo me causava!
A ausência do teu corpo no meu…paralisia total
do vento que passava impune!
Deixa-me acariciar a neve do teu rosto.
..ficar cuidado do teu sono…assumo a responsabilidade
da tristeza jamais voltar sobre a terra!
Assumo a responsabilidade de quando a noite cair
não amortalhar mais a aldeia…
Se me deixares reinar vou abolir os gritos de susto!
Olhando para a serra:
Olha amor!!!
É a lua cheia!...
Dá-me a mão…salta comigo no escuro da lua…
Acima dos pinhais de ébrio esplendor na luz do escuro,
Tão castas sejam qualquer tipo de razão!
Jamais te beijarei sem querer nos raios virginais
dessa lua…venham os arroubos…o desespero
Os braços estendidos na vontade louca do coração acelerado.
Espiritual e profunda respiração ofegante!
Passaram 30 anos!
Lembram-se queridos leitores,
daquela primeira mensagem de madrugada? Delicioso!