OUTROS FULGORES

Era uma constante ausência daquilo que não sabia explicar,

Uma revolta, uma carência que me atingia noite e dia até sufocar,

E em volta uma tempestade de emoção, quase a explodir,

E eu preso em mim, sem ter ao menos como fugir.

Meu quarto era uma estância isolada que em minha régua não cabia a distância,

Entre minha essência e um outro lugar onde estava presente sua incógnita presença,

E em minha volta as paredes me escondiam sob o medo de uma outra ilusão,

Dentro de um barco imaginário sem saber navegar, entre a razão e a emoção.

Mas como a vida já rasgou a minha pele em questões que agora me repelem,

Eu rasgava as roupas velhas que não serviam, para desejar o que estava além,

Sem saber se o desconhecido valeria uma lágrima ou diamantes,

Se duraria a vida inteira ou apenas doces instantes.

Sem perceber, a distância em minha estância começava pouco a pouco encurtar,

E passo a passo eu caminhava e com leveza já podia novamente respirar,

E essa incógnita presença se apresentou e começou a se desnudar,

E aos poucos conheci suas folhas e suas raízes que as paredes puderam ultrapassar.

Era uma constante ausência daquilo que não sabia explicar,

E agora, ainda tão eu, já não sei se posso tua existência ignorar,

São tantos os fundamentos que encontro entre a razão e o coração,

Que ouso percorrer contra o vento e sem medo, pela fina linha da emoção.

É que agora eu sou a mistura de antigas dores com suas flores,

É que agora eu sou a mistura dessa alegria com outros fulgores,

E a distância que havia entre aqui e qualquer outra direção,

Se fez finita ao imiscuir as batidas de nossa intenção.