Loucura que me cura


Não quero mais a veste de aparência
desses amores comportados
que só enchem o coração de carência
e no cerne de dois seres apaixonados
em suas almas... na sua essência
morrem como dois entes acomodados

Não quero mais a tola pretensão
desses amores analgésicos
que parecem que moram no coração
mas como sentimentos sinestésicos
não passam da mais pura ilusão
sendo das almas... cruéis anestésicos

Não quero mais a falsa segurança
desses amores burocráticos
que deixam no peito só a lembrança
de sentimentos quase apáticos
como quem chama alguém pra dança
mas fica com os pés estáticos

Não quero mais a traiçoeira impressão
desses amores amordaçados
que gritam sofridos pela paixão
como se fossem sentimentos velados
desgastados por não levantarem do chão
por não serem o que são... seres alados

Não me importo, contudo, pela palpitação
desses amores desgovernados
que vazam pelos poros na transpiração
escorrendo entre os dedos adocicados
pelo mel que alimenta a paixão
pelo sal que os faz purificados

Não me importo pela inocente brincadeira
desses amores irreverentes
que fazem nas camas lambuzeira
embriagando os amantes de aguardentes
como se destiladas de uma roseira
plantadas nos corações desde sementes

Não me importo pelo frio que dá na espinha
por esses amores arrepiados
que a bússola dos amantes desalinha
deixando seus mundos revirados
pois nas peles o prazer lhes acarinha
e os corações lhes entrelaçam enamorados

Não me importo com a inevitável incerteza
dos amores nascidos de loucas juras
que emprestam dos sonhos a sua beleza
injetam nas vidas doces loucuras
e no âmago da sua pureza
dos corações apaixonados são as suas curas


23 de agosto de 2007, 18h05
guerinis@uol.com.br