Filhos da rua
Não tenho destino, não sei como devo sonhar,
como a vida é quase sempre doce
e ninguém nunca me presenteou com um pedaço,
vejo os pais, os filhos e nada mais,
somente os carros rolando nas ruas.
Tenho olhos e nada vejo, nem porque ver,
as maldades tento ignorar, como fazem,
escolho meus amores e nenhum me escolhe,
não sei aonde ir e nem quando, então paro,
fico no meio da rua quando deveria começar a andar.
Falem a verdade, estou ainda dormindo,
eu não sei caminhar, ainda não aprendi,
quem sabe um dia vou olhar o chão de cima,
quem sabe deste meu mundo estranho
todos vão saber que temos o mesmo tamanho.
Hoje sinto que posso dar alguns passos,
a vida caminha entre o dia e a noite,
não sei se posso parar ou se devo continuar,
ninguém está olhando, eu não enxergo ninguém,
talvez seja este milagre que espero acontecer.
Diz de quem na verdade é este mundo tão grande,
estes pedaços que nem podemos chegar perto,
olho os prédios, as casas cheias de telhados e choro,
choro a tristeza dos que moram em pedaços de casas,
com cacos de telhas misturadas com madeira velha.
É isso que não entendo, morro em um jardim rasteiro,
ando em meio às flores que não tem valor de amor,
porque meu jardim não tem cerca, minha água vem da chuva,
e ninguém olha por mim, nem as flores colhem,
ninguém pára e olha os filhos da rua, ninguém pára e olha.
13/11/2006