VOANTE
Quem dera eu levar-te num vôo e mostrar-te o infinito
Marcar tuas asas com a força do vento
Soltar o cabelo, sentir o que é belo,
Provar do que é gelo e falar sem sentido.
Beijar no espaço, no alto dos montes,
Nas fontes banhar-te e nos pastos brincarmos.
Sentir os perfumes que exala das flores,
Folhear os capins na beira dos lagos,
Nos largos das pedras pular sem malícia.
Cantar com os grilos, fazer coisas tolas,
Colher lindas rosas, rasgar velhas cartas,
Deixar nossa marca num tronco caído.
Nadar no profundo, secar-se na sombra,
Soltar muitos gritos, fazer-nos meninos,
Provar frutas doces, descer as cascatas,
Cair nas folhagens , nas margens dos rios.
Soprar assovios, soltar melodias,
Olhar novas cores, pegar borboletas,
Azuis, violetas, Clarear-se de luz,
Molhar-se do orvalho, juntar os cascalhos,
Largar as sementes e no tempo pararmos
Criar novos versos, cobertos e amantes.
Falar-te poemas deitados à rede
Beijar os teus lábios, lavar o teu corpo.
Quem dera num vôo, Quem dera voarmos.