Detalhes
O diabo está nos detalhes;
o amor também.
Acordou cedo como de costume;
Pois os pés cuidadosamente sobre o tecido que cobria o chão gélido, espreguiçou-se lentamente, era possível ouvir o estalar de seus ossos enquanto se esticava mais e mais um pouco.
Na cozinha ao som dos Beatles seu café se aprontava, poucos segundos e a cápsula transformara-se no néctar divino que os deuses do século XX tanto estimam.
Música continua ao fundo, apenas música. Nada a além disso.
Seus olhos miravam agora o ermo de um quarto numa casa adormecida, escovou os dentes pensativo.
Talvez se saísse em 15 minutos não perderia o trem, mas talvez já fosse tarde; sairia atrasado mesmo, precisava pensar.
Durante todo o trajeto, ainda pensativo, com olhar perdido e mente nublada ele seguia, no seu trajeto costumeiro, vendo tudo em preto e branco.
Na próxima parada de seu trem sentido a lugar nenhum houve uma parada, uma mulher de tez marfim, boca cor rubi e olhos tão negros quanto a noite adentrara seu vagão lotado de pensamentos infindáveis, cito poucos dos muitos detalhes listados em sua memória caótica. Afrodite do seu Olimpo. Deusa imediata do caos e amor.
Seus olhos incertos cruzaram os dela, um sorriso nasceu tão fugaz e inesperado que ele corou. Seu coração batia aflito, talvez tão veloz quanto as asas de um beija-flor que alça voo contra um sapatinho-de-judia e a suga até a última gota.
Seus pensamentos anuviados se dispersaram, exista apenas a imagem daquela mulher desconhecida em sua mente e isso o fazia suspirar, transpirar frio, tremer as mãos.
Essa havia sido a primeira vez d'ele.
A primeira vez que ele sentiu amor;
e inevitavelmente a última.
Paschoal, George