Ver Você

Eu posso e tenho um corpo sem olhos

Pois é em um nada que eu posso te ver

Ajoelho e aos deuses eu agradeço

Pois cego eu sou como cego é você

Mas eu consigo ver a tua felicidade

Mesmo não tendo boca para sorrir

É a imanência absoluta e pode fazer

Com que eu me interiorize em você

Triplicado em múltiplos sou um ser

Que se revela na ausência de nascer

Com a língua largada e fria finjo pertencer

À uma cloaca impura que eu voltarei ao morrer

Se o surreal desta vertigem é virgem

De corpo,é apalavrado mas não existe

A não ser em muros que negros se insurgem

Pichado em tintas brancas com o dedo em riste

Uma aflição desmensurada que escrevo sem jeito

Eu tenho um nada comigo mas apenas sou desnudo

É uma faca na garganta que me rasga até o peito

Perdoe este jeito de falar... é para não morrer mudo