BACTÉRIA
O dia não ia bem!
O meu chefe me deu uma mala
para entregar ao doleiro.
No caminho,
alguém pergunta se troco duzentos.
"Pera aí!"
Falo.
Abro a pasta e vejo umas notas usadas, de pequeno valor.
Pego um bolo de cédulas e sempre molhando o dedo na saliva, conto-as até duzentos.
“Está aqui", disse.
O pedinte vai embora feliz!
Não demora muito,
começo a me sentir mal.
Eu pergunto ao médico: “virose”?
O que você fez?
Contei dinheiro com a saliva, doutor!
É bactéria,
vou prescrever um remédio.
Não faça mais isso!
BACTÉRIA?!
NNAÃÃÃÃOOOOO!
II
Estou na casa do meu amigo.
Vejo que ele está sentado no vaso,
enquanto conversamos.
Ele limpa a bunda,
Não lava as mãos,
mas o papo estava bom!
Aí me oferece um uísque.
Aceito.
Pergunta se quero gelo.
“Sim”, digo.
Pega duas pedrinhas,
joga no meu copo - já servido -
e mexe o destilado com o dedinho.
Dias depois,
acordo desarranjado,
com dores abdominais
e um mal estar insuportável!
Eu pergunto ao médico: “é virose?”
O que você fez?
Bebi na casa de um amigo.
É bactéria,
vou passar um remedinho.
Não faça mais isso!
BACTÉRIA?!
NNAÃÃÃÃOOOOO!
III
Hoje,
no almoço,
a Zoraide
vai servir um strogonoff.
Eu a vejo espirrar,
inúmeras vezes,
acima da panela,
a qual preparava o meu prato.
Em pouco tempo,
começo a sentir o catarro,
escorrendo pelas minhas narinas,
ânsias de vômito
e uma puta dor lombar.
Eu pergunto ao médico: “agora é virose?”
O que você fez?
Minha empregada espirrava,
enquanto cozinhava.
“Normal!”
Disse.
É bactéria,
compre este remédio prescrito.
Não faça mais isso!
BACTÉRIA?!
NNAÃÃÃÃOOOOO!
IV
Sábado,
duas da manhã!
Estou na Lapa.
Conheço ali um casal
muito simpático.
Gente boa, né?
Bebemos cerveja
e conversamos,
de pé,
próximo à uma barraquinha
na Rua Joaquim Silva.
Eles desejam arrumar um beck.
Só tenho umas pedras.
Estão sem paciência de buscar.
Fumamos crack.
Daí,
resolvemos fazer um ménage
e me levaram ao apartamento deles.
Num dado momento,
depois de muito foder à mulher,
ela pede para eu colocar em seu cu, “na pele"!
“Ok".
Assinto.
Após gozarmos,
o seu marido
também pede para ser enrabado.
“Com camisinha?”
Pergunto.
“No pelo".
Ele diz e eu respondo:
“sim".
Na semana posterior,
noto que pintas vermelhas
começam a surgir e se espalhar
por todo o meu corpo.
Também são bem dolorosas
as minhas mijadas,
cada vez menos espaçadas.
Minha urina se resume um líquido escuro,
o meu pau secreta um pruído
podre,
fétido,
viscoso.
Eu pergunto ao médico: “desta vez tem que ser virose, não é, doutor?”
Você transou desprotegido?
Sim,
sexo anal,
com um casal.
Agora fodeu,
filho!
Afirmou o médico.
É bactéria,
vou passar um antibiótico,
um anti-inflamatório e algo para dor.
NÃO FAÇA MAIS ISSO!
Ordenou o doutor.
BACTÉRIA?!
NNAÃÃÃÃOOOOO!
Já era tarde,
tarde, tarde, tard...
Bactéria se apossou de mim.
Atacou-me nos rins,
nos órgãos,
no sangue.
INFECÇÃO!
Febre.
Sepse .
Falência múltipla.
Eu,
em meu velório
perguntava:
“Virose? Virose?”
Já cremado,
minhas cinzas na urna,
ainda buscavam os rastros
de minha principal defesa
nos tempos do mestrado:
“BACTÉRIA?!
NNAÃÃÃÃOOOOO!”
(RODRIGO PINTO)