Executado por amar
Num sonho longe e secreto,
na Lendária ilha dos utopistas
Jazia na mente a liberdade de amar
regra gravada a sangue dos anjos
no mármore preto da sentença.
Não se conhecia constelações
no escuro das paredes de brasões
esculpidos a ouro polido!
Nas gélidas escadarias de pedra
suputam-se vassalos apressados,
em noites que nem soluça o vento
nas largas tapeçarias de Arraiolos.
E pelas janelas de carvalho Francês
sempre fechadas como túmulos
não se olhava as estrelas cadentes.
Histórias escritas com medo e saudade
e o sangue dos que desafiaram
a verdade da solidão das florestas
prisioneiras da eterna escuridão…
Um lugar onde não se chora!
Não se ri! Não se lamenta!
Serei executado em breve por amar…
Trajando o negro veludo Veneziano
que ela mesmo costurou para a boda.
Há todo um mar de tristezas no
abismo do olhar de quem não vive
o derradeiro sonho!
Uma coroa de flores de laranjeira
prendia-lhe o toucado abrilhantado
pela magia das estrelas cadentes
Como se fossem alfinetes dourados!
Pelo amor quebramos lanças e regras!
Um dia a Rainha infértil mandou castigar-te
Cortando as tuas longas tranças e
mandou confiscar a minha guitarra!
Apesar de tudo levei-te ao altar!
Sempre acreditei haver luz nos teus rastros
e a lança que me havia ferido não poderia
matar a linda mulher feita do ouro dos astros!
Mas um dia chegou!
Tu tornarias das alturas junto da janela
da sombria masmorra onde trancaram
a liberdade de amar!
O amor que em meu peito cabe faz-me gritar!
Mata-me infértil! Liberta-me!!!
Dá-me a minha guitarra para fazer
chorar as velhas e tristes estrelas!
As flores irão florir!
Irão escrever livros com beijos que não demos
junto das brancas aves fugidas
dos jardins da lendária ilha dos sonhos!
A lenda não deixará o amor ao abandono
As esposas não chorarão tristes na saudade!
As pombas voltarão também no inverno
e não abandonarão mais os pombais!
Que seja eu crucificado na cruz bem alta!!
Morrer por amor será a sua liberdade!