JANELA E O GATO
JANELA E O GATO
Não posso abri-me
Não posso deixar que ninguém
toque minha janela
Que dirá a porta Não sou sacada em seios
com brotos de hortênsias
Nem rosas perfumadas de outrora Não posso abrir-me
Pois você visitante tem-me
já tão sem perfume
no limbo de tuas lembranças
Não posso abrir-me
Pois o telhado é fosco
frio e nada quente
As paredes enrugadas
Não vais querer subir
Pois é gato seco
sem brilho em teus olhos
sem unhas, sem garras
Não me agarrarás
Sem aquele teu molhado pelo
que me açoitava.
Não mias mais em mim
Naquela casa tão pura
Jaz tão branca morada
Não posso abrir-me
É a verdade do tempo.
Cíntia Thomé
*Direitos Autorais