SE LEMBRA, MARIA?

Se lembra, Maria,

quando eu escrevia n'areia

poemas sob a lua cheia,

o mar ondas enviava,

e os lambiam e os levavam

para as carcaças naufragadas,

os piratas os liam e riam e choravam?

Se lembra, Maria,

quando eu nada escrevia

e você lia

no turbilhão dos meus pensamentos

o que me ia dentro,

esqueletos de poesia,

fragmentos de haikais,

murmúrios e lamentos

aportando no meu cais?

Se lembra, Maria,

pós-parto,

o poema chorava alto,

não reconhecia sua existência,

apenas sua espavorida presença,

e o limpava de vírgulas e pontos,

já o sabia pronto,

e você de mamar dava

ao lê-lo enquanto te arranhava, Maria?

Se lembra daquele dia?