Cinza

Hoje é um daqueles dias

Em que o mar e o céu estão exatamente da mesma cor

E nenhum deles é azul

Hoje é um daqueles dias

Em que o monótono cinza monotônico

Deveria me encher de melancolia

Deveria estragar o resto do dia, mas não

Porque agora cinza é a sua cor

A cor que reina em seu guarda-roupa

E nas suas conversas sobre outono

Porque agora o cinza me faz lembrar de você

E por isso virou uma mistura estranha de sentimentos

Certamente ainda não gosto de cinza

Mas acho que gosto de você

E isso é confuso e irritante

E muito mais glorioso do que jamais pensei que seria

Passei a vida toda tentando provar que o amor não existe

Correndo até ficar sem fôlego para ele nunca me alcançar

Empoleirando-me onde reina o sol mais brilhante

Para deixá-lo com medo de se queimar caso chegasse perto

Fugi tão rápido que ele acabou me encontrando do outro lado

Em meio aos tons de cinza, de um jeito tão inusitado

Que o mundo talvez nem saiba chamar de amor

Amor. Uma palavra na qual colocam tanto peso

Tantas cobranças, expectativas e regras

E desse amor, eu continuo fugindo

Amor existe, mesmo que eu tente negar

Mas... o que é amor?

É o sorriso em meus lábios quando acordo pensando em você

É aquele segundo em que o tempo para quando te vejo outra vez

É aquela conversa ébria e despreocupada que não dá pra ter com mais ninguém

É aquele momento de silêncio com a cabeça recostada em seu peito

É aquele sentimento estranho que de tanto tentar não ser meloso acabou sendo... só o suficiente.

Talvez o amor seja cinza

Essa cor meio incômoda que acabou me fazendo sorrir sem querer

Essa coisa nem preta nem branca nem feita de arco-íris e coraçõezinhos

Moldada em breves momentos temperados de risos e beijos e toques

Esse tom aparentemente sem graça porque está esperando a gente pintá-lo como quiser

E de repente...

Não existe nenhuma cor melhor para pintar o céu