TEMPESTADE N'ALMA

TEMPESTADE N'ALMA
Jorge Linhaça

Meus gritos mesclam-se ao silêncio
das respostas jamais proferidas.
Tempestade de vento a soçobrar
a nau da minha frágil tranqüilidade.
Sombras que me envolvem enquanto
as gotas frias da chuva invadem meu peito.
O coração é apenas uma chaga aberta,
mutilado, lutando para se recompor.
Massa disforme do que um dia foi belo.
Os raios das mágoas me dilaceram,
rasgam em tiras as membranas,
misturando sangue venoso e arterial.
Os trovões me ensurdecem os ouvidos
do espírito, espoliando-me o raciocínio.
As sombras da dor cegam-me os olhos
já tão cansados de procurar e não ver.
Silêncio...um silêncio inquietador me
envolve...
Cessam os raios e os trovões...
Apenas o salpicar das últimas gotas
de chuva no chão se fazem ouvir.
Imobilidade...o torpor do meu corpo
é o mesmo de minh'alma...a pálida luz
adiante é o que me faz pensar em prosseguir.
Medo...esse medo atroz de me recompor...
de me soerguer e seguir para, adiante,
estar novamente no olho do furacão.
Tempestade...bonança...
Gêmeas xifópagas nascidas do ventre
de minha dor.