MURRO EM PONTA DE FACA
Tudo acordado previamente, faltavam os ponteiros se ajustarem,
Eles não conseguiam, por mais que se esforçassem e tentassem
Ao longo de meses intermináveis, instáveis como o tempo lá fora,
Agora era só o corte da ração, o cão arrastando o peso dos anos.
A mágica acontecia, a química fluía, estavam calmos, preparados
E sem necessidade de ensaio, o papagaio repetia todas as frases
Que aprendera durante o convívio, alívio saber que acabou rouco,
Talvez pelas mudanças de temperatura, a clausura, o mau humor.
Era lindo e injustificável, ato solitário, louvável que ainda resistam,
Insistam em se aquecerem com as últimas brasas da fogueirinha,
Fim da linha, sem direito a baldeação, só o portão da saída aberto
E preparado para que passem e levem o que sobrou da bagagem.
Encontros e despedidas, frio na barriga, figa para que acabe bem,
Sem maiores danos, enrolados nos panos ainda sonham e amam
Com a mesma intensidade, a eletricidade que independe dos fios,
Alguns vazios ficaram nos bolsos, antes cheios, espaço ou futuro.
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