Elegia à amiga que não vem

Escrevi-te um verso, amiga

Talvez de amor, talvez um desabafo

E quis-te tão incontrolavelmente que quase me matei de não te ter,

Mas passou e agora estou bem. Respiro outros ares, sinto

Como me disses para sentir, as árvores, a vida, o vento

Entrego-me à natureza, aos animais

Faço amor com damas imaginárias, canto à lua

Suplico às estrelas que desçam, tento,

Tento tão incessantemente minha amiga, que meu peito dói

E me pergunto se sentes a dor que sinto

Se quando está com seus amigos, você às vezes se afasta para chorar

E reza por mim, pede para que eu melhore

Pois preciso tanto das suas preces

Preciso tanto de você...

Hoje deitei-me na grama macia do jardim

Olhei o sol entre as àrvores e imaginei um raio de sol como sendo teu

Dei teu nome à ele, único, que passa pelas folhas que achei mais belas

E pelos frutos coloridos. No inverno, quando tudo cai

Você, raio de sol, atravessa pálida entre as nuvens

E me amorna o corpo, me acalma. Nas noites de primavera

É possível ver a estrela que também tem teu nome

Entre a folhagem e o perfume que só aquele que já amou uma mulher sente

O perfume que a noite traz, tão amante e querida.

Assim, sinto-te em cada folha que voa, em cada lâmina de grama

Que me toca as costas, em cada sussurro do vento

E sempre, sempre presente nas gotas da chuva que não vem

Do céu escuro que me faz esperar a tempestade, mas não vem

E me acaricia os lábios, partículas refrescantes, como um beijo

Mas se movo os lábios, desaparecem, não estão lá

Fica apenas a sensação, a tentativa,

A espera do momento que não vem...

Vem amiga, vem que te quero

Que os teus olhos precisam dos meus

Que teus dedos precisam do afago dos meus cabelos

Que tua perna quer o peso da minha face e o frescor das minhas lágrimas

Então vem amiga, que te espero sempre

E quanto mais te esqueço, mais te quero

Quanto menos te busco, mais lhe encontro

Em tudo que me cerca, nas minhas admirações, nos meus sentidos

Rastejando enlouquecida pela minha poesia

E nos meus sonhos te possuo, mordo-lhe a carne, aperto

E depois peço perdão de olhos marejados

Como uma criança, te quero

Como uma criança, de braços e peito aberto

Que acredita na lenda, no mito, nas histórias

Que nunca deixa de acreditar no amor

E sempre acredita em você.