Recôndita

Até chamaram um perito criminal

O corpo parecia mesmo inanimado

A posição no chão não era natural

Arciforme, seco, parecia calcinado

Os olhos estavam arregalados

Mas, vítreos, pareciam não ter vida

“Coitado deve ter morrido assustado”

Parece que não houve tempo para despedida

Mas ela chegou e perguntou “Tudo bem?”

Colocou o ouvido no seu peito

Parece tê-lo puxado do além

Talvez ainda tenha jeito

Dedos suaves nos pulsos procurando as artérias

“Parece que ainda tem alguma pulsação”

Dos dias atuais e suas circunstâncias deletérias

Um amor talvez seja a salvação

Uma massagem cardíaca

O perfume entrando sem resistência nas narinas

Produzido imagens paradisíacas

Talvez para o banzo exista uma vacina

E de sinapses com estratégias de guerra

Flancos voltem a lembrar as curvas do seu corpo

Quiçá ainda reste esperança nesta terra

Talvez o poeta ainda não esteja morto

Quem sabe foi uma catalepsia?

E numa musa, a cura para todos os males

Nas esquinas loucas de uma poesia

Em rimas, o amor volte a encontrar seus pares