O TEU QUARTO
Não quero apenas adentrar
teu caminho, tua casa, ...o teu quarto
Não quero apenas te ver no meu olhar
distante perdido em pensamentos,
no retrato imerso em memórias e em papéis,
e nem no deleite de um sonho
desperto na madrugada.
Não quero apenas adentar e olhar
quero cantar enquanto puder te encantar,
te amar deixando-me inflamar,
servir, repartir, repetir e... não mais ter
que um dia partir...
Não quero apenas te ver por ver,
e viver por viver,
quero reviver, ver, rever, ser, pertencer,
mas sobretudo quero estar...
...inebriado desde as brumas da memória
ao vale dos nossos dias de maior
exultação e febril mocidade...
Quero estar qual rio se finda e
desvanece nas águas revoltas do mar...
e resgatar os risos e as lágrimas
que se esvaíram por entre os dedos
ao longo dos anos da nossa mútua ausência...
ceifar nas dores toda a tristeza,
e colher no riso todas as alegrias
num caminho largo como teu riso,
e assim adentrar teu caminho...
tua casa... o teu quarto...
ao aroma dos incensos,
embevecido de tua presença
no sabor das estações
seja o teu caminho largo ou sem canteiros
tua casa espaçosa ou sem tapetes
...o teu quarto... glamuroso ou sem cortinas,
ou até mesmo apertado... como num abraço...
que o amor não ocupa espaço...