Por amor se morre, mas também se vive

Tens razão, meu Caro Poeta, Murilo Mendes!

Também "o espírito da poesia me arrebata".

E não importa de quais temáticas ele trata...

Menos ainda se quem o lê de tudo entendes.

Que "somos todos deuses" eu também creio

E que "o amor arde como o fogo do inferno

Melhor que o céu", onde quem vive é eterno,

Posto que é, destas escolas, o ansiado recreio.

Por amor "passam ao largo os navios celestes"

E até mesmo "os lírios do campo têm veneno"

Tanto ou mais quanto o amor se for pequeno...

Qual o recato resta ao corpo sem suas vestes?

E por sua culpa "estamos unidos pelo pecado

Muito mais que à Jesus Cristo pelas Graças"...

Por amor o homem cria e vive suas desgraças.

E "vê um demônio em seu espírito dissecado".

Por tal sentimento "é destinado à vida expiação".

Antes que os vermes, o corpo em vida consome.

Por este sofre, pena, amarga, e até passa fome.

Faz desse amor o seu único céu de apreciação...

Por causa do amor a mão do poeta tudo escreve

O que seu cérebro dita e no coração transborda

Apesar do silêncio divino o anjo torto se acorda

E fica a sonhar tocando a carne em coito breve.

Por amor é permitido "o sítio e o saque da alma".

E o homem vê-se no seu mais extremo limite...

Também aos mais profundos gozos se permite.

Entre o abismo e o paraíso se dana e se acalma.

Por amor "se morre desde a criação do mundo".

A ele se entrega por inteiro e a vida lhe oferece.

Enquanto a chama desse ardor queima e aquece

O homem não deixa de amar um só segundo...

Por amor "o céu revira como o livro que se enrola"

E o anjo sem luz espalha os sete pecados capitais

Põe o vivente sujeito às chagas ferinas e mortais

Faz desse mesmo amor única cura que o consola.

Adriribeiro/@adri.poesias

Poema escrito em homenagem ao Poeta brasileiro Murilo Mendes

(1901-1975) que fez parte do Segundo Tempo Modernista. Recebeu o Prêmio Graça Aranha com seu primeiro livro "Poemas". Participou do Movimento Antropofágico. Considerado como o principal representante da Poesia Religiosa e da Poesias Surrealista no Brasil, na qual o poeta funde o imaginário e o cotidiano, o onírico, o divino e o mundano. A partir de 1952 passou a residir com a mulher na Europa. Moraram na Bélgica, Holanda, Itália e finalmente em Portugal onde faleceu no dia 13 de agosto de 1975.

Adriribeiro
Enviado por Adriribeiro em 06/08/2021
Reeditado em 06/08/2021
Código do texto: T7315297
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