A ROSA DESMAIADA

Quem te viu viçosa e soberana,

Hoje não te reconhece a existência,

Nem te preza com cuidados efêmeros,

E não te rega com carinhos e experiência.

Quem te aspirou teu perfume sedutor,

Hoje não admira a essência de teu aparecimento,

Quem viveu à luz se teu sucesso,

Hoje te deixa à sombra do esquecimento.

Quem te imaculou de elogios solenes,

Hoje nem te lembra, apenas te ignora,

Quem se serviu de tuas vestes coloridas,

Hoje não te conhece como outrora.

Quem se alimentou de tua formosura,

Hoje fecha os olhos ao teu desvanecimento,

Quem te refrescou num dia de sol,

Hoje nem um humilde orvalho te traz refrescamento.

Quem te viu balouçando no teu pedestal,

Hoje te culpa dessa inércia certeira,

Quem adornou seu lar com teu primor raro,

Hoje não te aprecia em tua hora derradeira.

Quem te purificou com seus beijos suaves,

Hoje te desfolha em mal-me-queres desleais,

Quem um dia te sorriu sorrisos castos,

Quem te acariciava quando tinhas alguma coisa para dar,

Hoje te maldiz inúmeras infâmias,

Quem te adorava quando eras moça,

Hoje te despreza quando és idosa,

Exausta e sem forças, quando te falta beleza:

Tão ingrato!

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