Letras 0189 - Conto de canto
Deixa a noite no canto,
o dia espera as horas,
chega o sol mais perto e amanhece.
Quando é chuva, já é prazer,
molha o corpo por dentro,
feito desejo de menina moça.
Amanhã tem missa do galo,
nem é natal nem nada,
meu, é quando quero presente.
Apaguei parte do ontem,
foi ruim sem os braços dela,
ele não volta, ta pra chegar.
Canta o grilo, a cigarra,
na noite ninguém dorme, trabalha,
formiga que nem eu, trabalha.
Põe mais lua no céu,
hoje tá só pedaço de meio,
uma tira que nem minha saudade.
Se a morte passasse por hoje
e olhasse pra eu,
não ia fugir, morria de medo.
Escreve meu nome atrás do nada,
se um dia voltar com o vento
e me encontrar, sou seu.
Espera a pedra correr no fundo do rio,
como peixe gordo no anzol,
a saudade alimenta o amor de espera.
Teimo não ver a noite no peito,
pra não pensar vou pro terreiro
e volto mais apaixonado.
Se houver um dia a mais na minha vida,
vou caminhar de rosto pro sol,
até o peito se abrir e a carne ficar dourada.
Muitos cantos no canto da boca,
os medos viram canção,
quando um morre fica todos de atenção.
Vou fugir como faz o demônio da cruz,
rezo o credo, viro e reviro do avesso,
ponho roda e viro caminho.
Já contei meus contos pela metade,
ninguém mais vê minha alma,
se contarem diferente, fui eu que falei.
09/11/2007