FRIOS AMORES
Quando eu percebi que te amava,
o tempo estava muito frio.
Quando o amor se acabou
fazia um lindo dia de sol.
Quando percebi que te amava,
meus sapatos marcavam a rua gelada.
Quando cheguei ao fim do amor,
as flores nos jardins
eram um remorso quente e brilhante.
Quando o amor me cercou de certezas,
o frio trazia uma poeira regelada.
Quando vi que o amor passaria,
meus lugares puxavam um calor descontente.
O amor devia ter uma lógica:
calor e frio
para o seu respectivo
começo e fim.
A quentura do mundo abriria o amor,
frios recintos deviam fechá-lo.
Mas comigo outra coisa ocorreu:
quando o amor surgiu
o tempo lá fora escorria
um abaixo de zero pulsante.
Quando o amor findou
o tempo lá fora esquentava
para um grito de criança brincando;
era um soldadinho de chumbo
morto debaixo do sol.