FRIOS AMORES

Quando eu percebi que te amava,

o tempo estava muito frio.

Quando o amor se acabou

fazia um lindo dia de sol.

Quando percebi que te amava,

meus sapatos marcavam a rua gelada.

Quando cheguei ao fim do amor,

as flores nos jardins

eram um remorso quente e brilhante.

Quando o amor me cercou de certezas,

o frio trazia uma poeira regelada.

Quando vi que o amor passaria,

meus lugares puxavam um calor descontente.

O amor devia ter uma lógica:

calor e frio

para o seu respectivo

começo e fim.

A quentura do mundo abriria o amor,

frios recintos deviam fechá-lo.

Mas comigo outra coisa ocorreu:

quando o amor surgiu

o tempo lá fora escorria

um abaixo de zero pulsante.

Quando o amor findou

o tempo lá fora esquentava

para um grito de criança brincando;

era um soldadinho de chumbo

morto debaixo do sol.

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 20/07/2021
Reeditado em 04/01/2022
Código do texto: T7303251
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