Inverno.
Vi um vídeo pela manhã que falava a seguinte frase:
"Uma parte importante da cura da nossa cabecinha doida está em fazer algo novo."
No vídeo em questão era sugerido tomar banho com as luzes apagadas.
Algo estranho o suficiente para te fazer pensar: porque não?
Mas eu havia acabado de tomar banho com as luzes apagadas, e o clarão lá de fora não me deixava sentir nada.
Enquanto eu assistia os 37 segundos de vídeo me peguei com desejo de sair correndo na rua.
Sem rumo.
De sentir o vento cortando a pele.
De sentir as pernas cansadas de tanto correr, mas não poder parar.
Teve um tempo em que eu corria, e eu ia sempre em frente.
Corria quatro, cinco, seis km.
E quando eu já estava esgotada eu tinha que voltar.
Os mesmos quatro, cinco, seis quilômetros que corri pra frente eu tinha que voltar.
Hoje o clima anunciava 7 graus, sai de casa em plenos sete graus.
Coloquei uma camiseta de manga comprida, uma calça, meias, tênis e máscara.
Depois de tanto tempo fora eu queria sentir o frio.
Depois de tanto tempo fora de mim, eu queria sentir qualquer coisa.
O céu azul foi um disfarce perfeito.
O vento gelado, o ar gelado invadiu o meu corpo.
Eu conseguia sentir tudo e nada ao mesmo tempo.
Meu corpo estático.
Travado.
Com sensação de estar congelado.
Mas eu podia sentir cada partezinha dele.
E isso me fez lembrar que eu estou viva.
Eu ainda estou viva.
Tudo que eu precisava era sentir alguém no universo devolvendo a sensação de estar vivo para mim.
E hoje, foi o frio.