SILHUETA
Era madrugada e a alma lavada totalmente nua enquanto a lua ri,
Lenços de intentos molham no sereno, enquanto a lagrima desenha um rio em mim,
E o tempo se desfaz ao vento e se refaz como um tormento que não encontra um fim,
E a gente dança como uma ciranda ao acorde de ilusão, pisando em rastros de festim,
E lua pálida molda a silhueta de quem dança a solidão,
Aquele que de amor tem fome, sonha com um beijo em sofreguidão,
Sem saber se ainda hoje ao brilho da lua alguém passará por este portão,
E as rosas do jardim são vermelhas como se regadas com fluído de um coração,
As aves noturnas seguem em seus voos sem se importar com a encenação,
De um grão de areia que é um ser calado, tentando engolir uma decepção.
Era madrugada e a alma lavada totalmente nua enquanto a lua ri,
O nó da sorte amarrou-se forte, que a ponta já não pôde encontrar,
E a flor sensível revelou suas cores na estação que mais lhe pode açoitar,
E o seu perfume é como um incenso, quando mais contrita mais pode exalar,
E o vento sopra como serenata um silêncio tanto que não quer calar,
E a lua insiste em seu riso triste, que congela a pele sem querer matar,
Ouvindo tudo que se diz calado, sentido um doce amargurado neste paladar,
O tempo segue como uma roleta, alternando a sorte de quem quer jogar,
Mas o amor não pode ser um jogo, pois se um perde como pode o outro ganhar?
Então não se trata de competição, mas uma ação em que ambos se entregam para somar.
Final da madruga e alma lavada totalmente nua enquanto a lua vai,
Os olhos pesados, nem tão acordados, descem como a folha seca cai,
E a penumbra vai se dissolvendo como se o vento pudesse lhe arrastar,
E o sonhador faz da sua dor cama temporária para desabafar,
E renascer após cada noite que a lua ria o furtava o ar,
Descascar-se da pele ferida, mesmo que a nova pele venha se rasgar,
Olhar a lua, enquanto a alma nua insiste em acreditar,
Que este mar que afoga os sonhos também o faz encontrar,
Até que em algum dia sob a luz da lua fria, outra moldura possa revelar,
E a silhueta seja acompanhada de outra alma, que pela lua revelada, encontrou um novo lar.