O AMOR É CEGO
Enquanto você está com outro,
lendo os poemas taciturnos que escrevo,
ao seu silêncio faço ouvido mouco:
hoje meu verso expulsou o medo...
Enquanto escondes o que me pertence,
pertenço aos espoliados, sem defesa;
mesmo assim nada me vence:
cultivo, da palavra, a beleza...
Teu amor ao ouro, cobre e prata,
ao brilho que jorra do caco de vidro,
faz do amor uma fera que se mata
como faz a mulher que aborta o filho...
Ver o verdadeiro amor morrer sufocado,
apenas por supor, alguém, ser sem valor,
eis a melhor definição da palavra pecado,
eis algo terrível e que causa imensa dor...
Sim, diz que o amor é cego o velho ditado,
ave de arribação que não sabe onde pousa;
impedido de amar ou então ser amado,
se torna um poema apagado na velha lousa...