Surpresa

Estava em meu leito de descanso

Quando viestes sem aviso entregar-me teus braços

Em meu rosto, surpresa estampada desde então

O peito ditoso acelera nervoso o coração

Num salto alcanço-te

Agarrando a outra metade da vida

Nesses breves segundos de existência

Sou paz ininterrupta

Visto-me de fingida calmaria

Por dentro, mar impiedoso

Como em poema épico

Regido pelo colérico imortal do olimpo

Aturdindo por uma década o heroico Ulisses

Como tal, atravesso a calamidade

Em tanta saudade da terra natal

Que a desgraça que a outrem seria fatal

A mim, se resume em sede cabal de ti

Estive ali ao teu lado numa mudez incorrigível

Tantas perguntas a me invadir a mente

E o teu olhar indolente à me suprimir

Tive de cuidar meus ímpetos de luxúria pueril

Não me escaparam teus olhares embebidos no além

Meu bem, mal sabes o fremir que me atingia as carnes

Quando teus olhos negros se esqueciam donde estavam e pairavam no infinito da imaginação

Queria acompanhar-lhe em tal vagar, todo preso em tuas mãos

Sigo longe de ti

Dedicando meu amor, meu pensamento

Louvando-te, sois a única deusa que figura meu altar

Cheia de ira, apaixonante, verto olhares inebriantes sobre os rastros do teu pisar

Era antes incrédulo, agora fanático

Me entregaria sem resistência à ciência

Dissequem-me, juramentados de Hipócrates

Analisem-me as entranhas em febre

Descrevam minunciosamente o que em vida tanto me dominou

Há de submergir violento, para que o menos atento perceba

Toda essa natureza minha entranhada de teus perfumes...

Ruan Ferreira
Enviado por Ruan Ferreira em 19/05/2021
Código do texto: T7259238
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