Surpresa
Estava em meu leito de descanso
Quando viestes sem aviso entregar-me teus braços
Em meu rosto, surpresa estampada desde então
O peito ditoso acelera nervoso o coração
Num salto alcanço-te
Agarrando a outra metade da vida
Nesses breves segundos de existência
Sou paz ininterrupta
Visto-me de fingida calmaria
Por dentro, mar impiedoso
Como em poema épico
Regido pelo colérico imortal do olimpo
Aturdindo por uma década o heroico Ulisses
Como tal, atravesso a calamidade
Em tanta saudade da terra natal
Que a desgraça que a outrem seria fatal
A mim, se resume em sede cabal de ti
Estive ali ao teu lado numa mudez incorrigível
Tantas perguntas a me invadir a mente
E o teu olhar indolente à me suprimir
Tive de cuidar meus ímpetos de luxúria pueril
Não me escaparam teus olhares embebidos no além
Meu bem, mal sabes o fremir que me atingia as carnes
Quando teus olhos negros se esqueciam donde estavam e pairavam no infinito da imaginação
Queria acompanhar-lhe em tal vagar, todo preso em tuas mãos
Sigo longe de ti
Dedicando meu amor, meu pensamento
Louvando-te, sois a única deusa que figura meu altar
Cheia de ira, apaixonante, verto olhares inebriantes sobre os rastros do teu pisar
Era antes incrédulo, agora fanático
Me entregaria sem resistência à ciência
Dissequem-me, juramentados de Hipócrates
Analisem-me as entranhas em febre
Descrevam minunciosamente o que em vida tanto me dominou
Há de submergir violento, para que o menos atento perceba
Toda essa natureza minha entranhada de teus perfumes...