Se
É uma ousadia deixar solto o pensamento. É um risco deixar livres as palavras. É perigoso deixar sem tutela o corpo. Imagino e logo viajo por montes e vales, terras de sol e de sombras, de muitas vozes. O mais seguro é o silêncio que, ele também, pode ser espada e muro, pedra, medo de gritar, de dizer. E falam por nós os gestos, os dedos, as rugas, o apertar da boca, a língua a molhar os lábios, a cor das horas, a falta de vez e de tempo. Olhamos e não vemos. Vemos e não dizemos. Complexo é o espírito, o que não se lê a tramar ditados, a mexer onde nunca deveria, a largar ventos que farão por nós a bulha. Quem diz luta diz suavidade. Que lindo céu azul, que bela nuvem, que lisa a tua pele, que profundidade trazes nos teus olhos. E se bebêssemos? Se, só por esta vez, deixássemos escancarada a alma, livre o pensamento, solto o corpo. Haveremos de amolecer, ficar sem poder e voaremos por onde nunca antes soubemos. Cheia esta e outra taça, vazia esta e outra garrafa, vem amor dizer de ti ou, se fora de tudo, fecha-te e pousa no meu sexo a tua vontade adormecida.