QUEM DISSE?

Sabe, ando andando com a lua,

caminhando pelas ruas

que um dia contigo andei,

em que me dizias, sou sua,

e eu, com a minha alma nua,

antes de te ver, sempre te amei...

Hoje, ando sonhando sem sonhar,

náufrago em deserto, sem mar,

vivendo do que guardo na lembrança,

na procura procuro te encontrar,

na porta do silêncio bato até sangrar,

depois do amor, a solidão, andança...

Quem disse que o poeta tem que sofrer?

Do seu poema escorrer sangue, doer, doer?

Como se a dor do mundo só a ele procurasse?

O poeta tem direito à plena felicidade,

mudar de amor como se muda de cidade,

tem no peito a força do amor que renasce...

Um dia, por descuido do destino,

aflorará, como sempre, o menino,

uma palavra que o cubra de alegria,

dos deuses o som eterno de um sino,

bebê, rã, feto, neném, luz, brilho, alevino,

que lhe cubra a folha selvagem da poesia...